Uma história de José

Eu te amei desde a aurora dos tempos e jamais soubera.
Eu te amara. Estou certo disso.
Mesmo o silêncio não pôde nega-lo.
Mesmo uma tal ausência de gestos, de dizeres, de prazeres...

Mas tudo passou,
E mofou, e ruiu,
Se quebrou, quebrando a ilusão,
E o silêncio, e a paixão que eu nem sabia ter havido em mim.

Algures, quiçá, eu tenha sido um outro,
Vivendo uma outra vida, com outros valores, outras ideologias, outros ódios...
Talvez eu tenha sido sempre esta imensa saudade de qualquer coisa que eu não sei dizer qual.
Esta saudade de pedra, por um amor que me suponho ter vivido.

Os problemas não me dispensam de morrer.
Oh Deus!
Quanta crueldade, quanta crueldade, quanta crueldade...
E agora?

Nem um amor que habitasse nas vísceras do que é vivo poderia me fazer entender, como eu que sempre me supora tão esperto, safo, sáfico, deixara passar  essa possibilidade tão última, tão fatidicamente, última.

E agora?
Ecoa a petrificante maldição,
E agora?
Esta lâmina que anda a acariciar-me a pele,
Não mata, mas fere,
Me fere e não mata!
Quanto sadismo há nos dias...
Quantas diabólicas intenções...
Quanto poder de destruição!

Onde estará o amor?
Por acaso, existe o amor?
Será puro delírio da carência?
Será demência, frugalidade?
- pergunta o conciliam sapientium-
Nunca viveram, nem viram, nem ouviram, nem beberam, nem comeram, nem gozaram, nem choraram, nem sangraram, nem gestaram, nem caíram, nem sonharam, nem dormiram... Nem...
Pois, o amor habita na completa nudez dos dias, das horas, dos instintos rés incognoscíveis do tempo.

Vivi todas as coisas,
E é por isso que me sei ter amado alhures.
Embora não o diga bem, sei que foi real.
Real como o homem, como o gemido de um homem,
Como o som ecoando no ar
, Seguindo o sentido da fome.

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