Pedidos
Deus supremo:
Dê-me
olhos capazes de enxergar vida sem a presença daquela que me deprime, pois em
profundo estupor encontram-se os meus caminhos;
dê-me boca para recitar alguns
sonetos para ela e incendiar fortemente a máquina triste e fria na qual se
transformou seu coração;
dê-me razão para distinguir o exato do correto, o odor
do hormônio, o corpo da pele e o querer da vontade; dê-me instinto para
colocá-la abaixo dos sentimentos que me corroem o peito, acima do amor máximo
que possuo e ao lado da aromática carne que detinha;
dê-me lividez para demonstrar indiferença com a sua presença, esquecendo a desditosa vontade de tocá-la com todo o ardor do ressecado; dê-me paciência para aguardar por mais alguns anos a sua volta, mesmo que efêmera, ainda que para admirá-la por alguns átimos de segundo; dê-me constância para lembrá-la sempre como saudade, e que eu não manipule meu coração com teorias improváveis que só me fazem sentir ainda mais a sua falta; dê-me tristeza para saber que o amor que sinto por ela é impávido e irrefragável, embora seus pensamentos já naveguem por outros mares; dê-me insatisfação para buscar alguém que seja semelhante a ela, não apenas em carne, mas também em peito e palavras; dê-me dissabores para, todos os dias ao cair da tarde, chorar sozinho e copiosamente sentindo a sua ausência; dê-me inglórias para cair e levantar com a força de imaginar que um dia poderei revê-la e amá-la, com ares de sua provável querença; dê-me distância para que o desejo de mirá-la seja possível apenas nos românticos encontros produzidos pela arte de meus pensamentos; dê-me capacidade para estar no lugar que ela almeja, fazendo com que o infindável tempo leve aos seus domínios pródigas notícias minhas; dê-me lucidez para observar a beleza das pequenas coisas e tentar seguir vivendo e aceitando o destino sem ela; dê-me paixão, mesmo que momentânea, para que eu possa ter alguns instantes de contentamento, posto que apenas a amada traz consigo a legítima felicidade; dê-me indignação para sempre sentir as dores das punhaladas desferidas, embora perdoadas, e assim adiar um pouco o intuito de busca-la nos lares belos do infinito; dê-me esperanças para imaginar, pelo resto de meus dias, que ela sempre estará aguardando por mim assim como espero por ela em minhas intermináveis inteligências; dê-me dúvidas para que eu possa continuar a escrever versos aliviadores, guardando-os para que um dia ela leia e chore a magnificência daquilo que seu próprio semblante causou; dê-me loucura para que eu possa enviar flores amiúde, mesmo que o aroma e a beleza das orquídeas negras não inflamem mais seu enlutado coração; dê-me coerência para saber o momento de desistir, deixando apenas que minhas palavras e fotografias vivam para comprovar o que é plena certeza em nossos corações; dê-me memória para guardar em minhas profundezas cada beijo dado, cada frase dita por sua boca, cada suspiro de total satisfação; dê-me angústia para saber que o sofrimento é necessário quando se deseja valorizar a essência verdadeira dos amores desgovernados; dê-me temor ao proferir juras de amor que não sejam para ela, e assim negar a vil traição de minhas próprias convicções; dê-me flagelo, pois sou merecedor de tudo que penalize um ser arrependido por não ter amado em demasia uma mulher; dê-me infidelidades, imprescindíveis nos tempos da cólera, irradiante louvor corporal que prevalece a forma em detrimento do completo; dê-me aflição, o inquietante desconforto por permanecer centrado, aniquilando a tranqüilidade e detendo-me na busca do que só ela é possuidora: o meu pobre amor.
F.P.
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