QUER BRINCAR? (Capítulo 1)
— Você precisa expô-la a um novo ambiente, pra mudar
de vida. Tente mudar para o campo, um lugar mais tranqüilo, longe da cidade.
Assim ela esquece um pouco do sofrimento. A casa de vocês é o lugar aonde ela
vai sempre ter lembranças da mãe. Ela só tem nove anos. Pode ficar traumatizada
para o resto da vida.
— Certo.
— É a coisa certa a fazer.
Edgard conversava com a psicóloga, Dra. Suan, enquanto
Olga observava calada, pela vidraça do prédio cheia de gotículas de chuva, a
cidade lá em baixo. Mas
não parecia ter um olhar fixo em
algo. Só olhava para o vazio, com olhos arregalados e
pensativos.
—
Vamos querida – disse Edgard pondo a mão no ombro de Olga e encaminhando para a
porta de saída.
As
últimas malas já estavam sendo colocadas dentro do carro. Olga sentada no banco
de trás, observava seu pai, quieta. Edgard entrou e arrancou o carro.
Passaram
pela cidade e os grandes prédios foram desaparecendo substituídos por árvores
secas, altas e feias, contrastando com o fundo cinzento de inverno e o céu
encoberto.
Foram
para um lugar no interior de Nova Iorque, com uma população baixa. O lugar
parecia bem calmo, com um grande lago e casas bem longe uma das outras. Mas o
que impressionava era o grande casarão isolado e cinzento que Edgard comprara.
Suas ripas, compridas e antigas e janelas grandes, davam à casa, um ar de
abandonada.
Pararam
o carro em frente à ela e uma mulher estava parada, como se esperasse por eles.
—
Olá! Bom dia! – disse Edgard à estranha. Uma mulher meio gorda, com os cabelos
grisalhos um pouco louros e uns pés de galinha:
—
Bom dia, Sr. Edgard.
Enquanto
conversavam, Olga os observava calada.
—
Olga, venha cá – Edgard a chamava. – Esta é a Sra. Amélia Welch. Ela quem
indicou a casa pra gente.
—
Oh! Olá! – disse a Sra. Welch estendendo a mão num cumprimento. Olga só olhou
para a mão da mulher.
—
Ela é tímida com estranhos.
—
Eu sei como é. Eu tenho uma sobrinha, filha da minha irmã. Talvez ela possa vir
aqui algum dia para brincar com Olga.
—
É. Boa idéia.
—
A casa é bem grande. Vão gostar dela. E é aconchegante também, assim como o
lugar. Todo verão, aparecem pessoas de vários lugares para visitar o lago.
—
Ouviu isso filha? Olga? Você viu para onde ela foi?
—
Olga? Olga? – Edgard chamava pela filha dentro da casa e Amélia o seguia. A
garota estava parada no início de um corredor, observando uma porta que estava
no fim dele. Parecia interessante para ela, ficar observando uma porta:
—
Olga? – disse Edgard.
A
menina virou-se para trás calada:
—
Sra. Welch, pode deixar com a gente agora.
Edgard
foi tirando a bagagem do carro. A casa já estava mobiliada e era bem grande
mesmo. Muitos quartos, corredores, sótão, porão, escadas, lareira e era bem
confortável. O corredor mais comprido, tinha uns quadros velhos, um tapete fino
e lustres no seu decorrer. Edgard podia até tirar aquela decoração, mas gostava
de casas com um aspecto mais antigo. No final do corredor, a porta que Olga
observara. Era feita de madeira resistente, enfeitada com desenhos em alto
relevo em forma de flores, sóis e rostos humanos e uma maçaneta bem redonda,
que Edgard girou, porém ela não abria. Fez força para empurrá-la, mas nada.
Deus uns chutes, mas em vão.
Deu uma olhada no buraco da fechadura. Parecia ser um velho
quarto.
Conseguiu
ver uma cama e um guarda-roupa. E ainda, um cheiro de mofo podia ser sentido.
Ele
achou melhor deixar pra lá. Afinal, ninguém iria entrar ali mesmo...
Na
hora do jantar, tinha espaguete com um molho especial. Mas parecia que Olga não
estava interessada em comer:
—
Não está com fome? – perguntou indignado Edgard – é seu prato preferido.
—
Estou com sono – disse Olga com uma voz baixinha, quase tateando.
—
Pode ir então – disse Edgard seguido de um suspiro.
Olga
subiu as escadas e foi deitar-se.
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