QUER BRINCAR? (Capítulo 2)

Naquela manhã, Olga saiu de casa para caminhar lá fora. Vestia um casaco e um par de botas reforçados.
A grama era feia e cinzenta, as árvores secas com galhos finos e retorcidos. Estava observando o lugar. Dali, podia ser visto uma casa a uns cinquenta metros da sua e nenhum ruído, nenhum som. Só o silêncio reinava naquele lugar que parecia esquecido por todos.
O vento tocava o rosto de Olga, seguido dos raios do sol quentinhos de manhã, bem de leve.
De repente, algo chamou a atenção da garota. Uma borboleta negra surgiu voando em frente à Olga. O inseto voava de um lado para o outro, como se quisesse chamar a atenção de Olga, num vôo elegante. A borboleta foi se aproximando da garota, e começou a voar em volta de sua cabeça, e depois se afastou da menina, que curiosa, segui-a. O inseto voava de um lado para o outro, como se estivesse vigiando se Olga ainda o seguia. Pousou numa coisa quase enterrada no solo revirado.
Um tipo de anel de ferro ou de bronze enferrujado. Olga esticou a mão, espantando a borboleta, pegou no anel e o puxou com força. Mas era mais que isso. Era uma chave preta e velha, que parecia estar enterrada ali havia um tempão. Olga se levantou e olhou por um tempo a chave em sua mão. Novamente, a borboleta começou a voar ao redor de sua cabeça e voou com velocidade para a porta da casa de Olga. Parecia que ela dizia: “Venha! Depressa!”.
Olga guardou a chave no bolso do casaco e entrou em casa. A borboleta negra subiu voando a escada e a menina a seguia com rapidez. O inseto voou por um corredor, virou outro e mais um e Olga o imitava. Num instante, já estava de frente ao corredor do quarto misterioso. A borboleta, negra como a noite, foi ao encontro da porta e pousou na maçaneta. Olga aproximou-se da porta. Não pensou duas vezes. Apanhou a chave do bolso e ela servia direitinho no buraco da fechadura. Girou a chave. Precisou usar as duas mãos, mas conseguiu. Em seguida, virou-se para trás para ver se seu pai estava por perto. Não estava. A borboleta como que ansiosa, voava ao redor de Olga. A garota fez força para abrir a porta, mas parecia estar emperrada. Fez força de novo, mas nada. Estava quase conseguindo, quando:
— Olga! – Edgard procurava a filha.
Olga rapidamente retirou a chave e guardou no bolso novamente. Não trancou a porta. Saiu do corredor com passos largos. Olhou para trás. A borboleta havia desaparecido. Virou um corredor, virou outro e deu de cara com seu pai:
— Olga! Temos visita!
 — Olga, essa é Sra. Thwaite, nossa vizinha.
A Sra. Thwaite, era uma mulher um pouco velha, aparentando ter uns cinquenta anos e era bem ativa não aparentando estar sempre cansada e agora, parecia estar paralisada com Olga por perto:
— Que menina adorável! – disse impressionada. Edgard retribuiu com um sorriso:
— Veja filha. Ela trouxe pêssego em conserva, e eu sei que você adora! – Olga nada respondeu.
— Ela é meio tímida.
— Bem... eu tenho que ir. Não quero tomar o tempo de vocês.
— Que é isso. Será sempre bem vinda aqui. E obrigado pelas conservas de pêssego – e fechou a porta – lave as mãos para almoçar e depois vamos fazer compras.

Naquela tarde, Edgard e Olga foram ao mercado da pequena cidade. Durante as compras, Edgard pegava os produtos e os colocava no carrinho. Olga só o seguia:
— Quer que eu faça seu prato predileto hoje?
Olga sacudiu a cabeça num sinal negativo. Ele continuava pegando as coisas e pondo-as no carrinho:
— Querida, se importa em pegar algumas maçãs pra mim?
Enquanto Olga pegava as maçãs, uma moça deixou uma sacola de verduras cair no chão e Edgard abaixou para pegá-la. Quando se levantou, se deu conta da beleza da moça que agradeceu:
— Obrigada.
— Não há de que.
Os dois ficaram se olhando por alguns segundos:
— Eu sou Edgard. Sou novo aqui na cidade – e estendeu a mão para cumprimentá-la:
— Meu nome é Susana. Moro aqui desde pequena.
Susana era uma mulher bonita. Loira, cabelos ondulados e olhos claros. Não era casada. Divorciada.
— É um lugar aconchegante, vai gostar –disse ela.
Olga olhava para os dois que conversavam naturalmente, enquanto colhia as maçãs, agora, com mais rapidez. Quando terminou o serviço, ela aproximou-se do seu pai:
— Papai, assim já está bom? – perguntou-lhe mostrando a sacola cheia de maçãs:
— Ah! Já ia me esquecendo. Essa é minha filha, Olga. Olga, esta é Susana.
— Oi!
— Olá! – respondeu Olga, perdendo a timidez.
— Sabia que você é uma garotinha muito linda? – Olga sorriu.

— Agora, dê-me licença, porque já está ficando tarde – disse Edgard com um sorriso, olhando para o relógio – mas outro dia a gente se vê.
— Este aqui é o meu cartão. Se quiser. Pode ligar pra mim.
— Tudo bem, eu farei isso – respondeu Edgard pegando o cartão.
— Então... Tchau!
— Tchau!

Os dois deram as costas e Olga observava Susana, por cima do ombro, com uma cara fechada...

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