Roupa Velha

Depois de adulto, ando percebendo cada vez menos mudanças na minha personalidade, e tenho pra mim que isso é uma das fontes do meu estresse, quero gritar, rasgar, trucidar esse rotina de pensamentos, as vezes eu nem quero viver, viver no sentido de estar em ação, mas parece que vou sofrer mais se ficar parado pegando poeira no corpo e trabalhando a mente.
Voltando... parecia mesmo que tenho o mesmo jeito desde os 19 anos, mas que engano o meu, sai com uma turminha de amigos que costumava sair 3 anos atrás, fizemos o mesmo tipo de programa, programa que eu fazia toda semana, e pareceu que não era eu que estava ali, não que não tenha sido divertido ou tenha algum problema com meus amigos, mas aquele tipo de diversão: beber e dançar se tornou algo tão pequeno na minha vida.
Como se aquele Júpiter que saia para todas as festas tivesse sido colocado num canto de um quarto escuro e foi definhando, morrendo de fome, ou talvez de abstinência de álcool. Que quando viu a luz do sol não sabia nem mesmo como andar direito.
Aquilo voltou a ser novidade para mim, mas sob um olhar julgador.
Acho que na verdade estou é ficando um velho ranzinza, de copo na mão e os boletos a vencer na cabeça, eu preciso é alimentar esse Júpiter para que fique um planeta grande e vigoroso novamente, que saboreie o prazer de estar com os amigos e gozar do hálito da noite.
Ou talvez seja como brincar de pique: correr, pular, empurrar os outros. Coisas que fiz até suar e que hoje não tem mais espaço na minha vida, esse Júpiter também está nesse quarto escuro, pelo menos eu acho. Tenho que procurar por ele às cegas, mas sei que ao menos um retrato dele no corredor eu tenho.
Como uma peça de roupa que não serve mais, posso guarda-la com cuidado, compartilhar com outra pessoa ou vesti-la e não ter medo de parecer ridículo.

Só não posso esquecer que esse Júpiter de agora, quando eu piscar já estará dentro do quarto, inclusive nem é o mesmo que começou esse texto.

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