De Valores


"Mesmo sem saber se jamais chegarei, apetece-me rir e cantar em honra da beleza das coisas"
                                                      (Sophie de Mello Breyner Andresen)



Qual seria então, caros senhores, dentre os valores que tonalizam a vida, o protagonista das essências, o que faltando, as flores esmochar-se-iam, os gozos, privados do prazer, abater-se-iam, os homens, plenos de orgulho, tombar-se-iam a procurar nos chãos os signos jamais amados, representação do que nunca pode ser controlado, intrínsecos de vitalidade em si mesmos, de imoralidade do si mesmo.

Queimar a vida, sugar o pródigo sumo da força no egoísmo, na concupiscência, na insciência, na mentira, na sagrada consciência de que tudo é sempre nihil. Queimar a golpes de desejo, de vontade potente e libertadora o combustível que possibilita viver a verdadeira vida. Queima-la como signo indeterminístico das leis jamais inscritas na natureza, realiza-la como hecatombe das verdades personificadas, parasitárias, envelhecidas e putrificadas. Lançar-se numa dança de mãos dadas com a morte, num bailar sobre uma corda estendida ao largo de um precipício, e então transmutar-se em desarranjo, em desconcerto, em desencontro entre a introdução, o fim e o desenvolvimento.

Fazer do momento presente, toda a meta, toda tarefa, toda seta, e o mais não importa.

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