Pipa

   Voando livre, solta.
   O vento soprando em mim, unica preocupação sendo um pequeno fio que me prende a terra.
   Queria muito ser a pipa na outra ponta, mas sou o garoto magrelo que a empina. 
Minha proibiu os meninos de virem soltar pipa aqui na laje. Parece que tem uma doença aí que está todo mundo pegando.  A galera ficou puta, claro. Minha laje é o melhor lugar para empinar. O ponto mais livre de fiação. Alguns conseguem empinar de suas casas. A maioria não.
   Por isso sou o único que to empinando hoje. Sem perigo se alguém me cortar. O que é chato. É tão mais legal poder ficar junto dos meninos e um tentar cortar a pipa do outro.  A gente fica puto mas passa. A gente corre atras de pipa avoada, se estrepa, mas passa, mas essa doença não está passando. 
   Fui na venda ontem pra mamãe, contando que poderia pegar o troco de bala. Mas ta tudo caro! Ate reclamei com julinho. Mas ele me mandou xispar. Tava de máscara o filho do dono da venda. Geralmente quem fica é o pai, Seu Antônio. Mas fiquei sabendo que ele pegou essa doença ai e tá internado. 
  Pô! Deve ter sido por isso que aumentaram o preço do arroz! Eu nem tenho culpa.
 Cheguei em casa e contei pra mamãe que ta tudo caro. Ela começou a se estressar, gritando, falando sozinha, chorando. Desde que a patroa dispensou ela que ela anda assim. 
  Tá dificil ficar na rua, ficar em casa, pelo menos posso soltar pipa.

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