Ônus

   Toda vez é sempre a última vez. 
   Já estou no décimo namoro e é a décima vez que me encontro aqui, no fundo do poço.
   A cada término parece que nunca irei amar novamente. Uma dor inesgotável que, quando percebo na carne do outro, confesso não sentir qualquer empatia.
   "Olha lá, levou um pé na bunda, bem-feito!". 
   Pois é, levar um pé na bunda é o pior dos golpes a ser desejado a um inimigo. O golpe é profundo, corta carne, osso e alma.
   Imagino aqui, enquanto devaneio em minha solidão, que amar seja como lançar tentáculos na direção de nosso bem amado. O desejo da companhia daquele sujeito ao seu lado na hora de dormir é um elástico bem amarrado e teso.
   Mas quando ele arrebenta, meu amigo, ele ricocheteia bem no meio da sua cara!
   Eu gostaria muito de amar e não ter este ônus fatídico. Mas se o amor foi projetado assim, o que posso fazer eu além de amar? Amar e torcer para o elástico não arrebentar?
   Meus amigos gostam de dizer que a cada desilusão se machucam menos. Eu arrisco dizer que é porque amam menos. A cada tentativa arriscam menos, deixando com que o medo cresça mais do que o amor.
   Será que é por isso que dizem que o amor é para os jovens? Diria o senso comum que o jovem se arrisca mais, se arrebenta e não tem artrite. Um mito, conheço coroas mais radicais que muitos novinhos por aí.
   É lógico que não quero precisar voltar aqui até o final dos meus dias, mas aceito o sofrimento. No entanto continuarei tentando amarrar meu elástico o mais forte que puder.

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