Azul Celeste
Sonhei novamente que estava voando. Esses sonhos estão cada vez mais frequentes. Começam sempre da mesma maneira: estou deitado na minha cama, parado em silêncio, e sinto o peso de meu corpo me abandonar, como ar saindo de um balão. Não entendo e nem me importo. Me levanto e, com um mínimo impulso contra o chão, começo a flutuar.
Não sei de onde isso vem nem o que significa, só sei que eu gosto muito. A partir deste ponto, meu quarto desaparece e eu estou livre para voar pelo céu azulado. Consigo controlar meus movimentos inclinando meu corpo para as direções que quero ir. Abaixo de mim consigo ver o mar, as colinas gramadas e as florestas profundas. Não há sinal de vida humana próxima.
A sensação de voar é a melhor que existe, mesmo que não seja real. A ironia é que ela é a que me faz sentir mais vivo. É libertador; voo sem responsabilidades, sem atritos, sem companhia. Não existe necessidade nem função. Não preciso de sentido ou objetivo, apenas voo. Subo cada vez mais alto, sentindo a gravidade me dar adeus. Nem mesmo ela pode prender, a grande inevitabilidade que ronda a Terra. De certa forma, sou maior que ela e maior que tudo.
É, acho que isso é um pouco egoísta de minha parte. Mas eu não me importo; quando eu voo, só eu existo. Isso até eu acordar. Depois disso, tudo volta; responsabilidades, atritos, companhia. Sensações vazias e pressão constante.
Talvez eu imploda, afinal. É, isso não importa. Tudo cai.
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